Albert Hofmann, criador do LSD em 1938, viveu 102 anos, de 1906 a 2008. Além de comprovar o efeito psicodélico da droga num autoexperimento de 1943, o suíço fez uso esporádico desse alterador de consciência, mesmo sendo um crítico da popularidade recreativa que ela adquiriu nos anos 1960.
Haveria ligação entre a longevidade incomum de Hofmann e as viagens lisérgicas ocasionais que fazia em sua busca espiritual? Em ciência, um único caso não prova nada. Coincidência não é causa, e evidências anedóticas não corroboram hipóteses.
Cinco semanas atrás morreu Amanda Feilding (1943-2025), condessa britânica célebre em sua luta por reforma de leis antidrogas e reabilitação de psicodélicos como medicamentos. Amiga de Hofmann, fazia uso regular de LSD e viveu 20 anos menos que ele.
Stevens Rehen, neurocientista brasileiro que estuda psicodélicos, dá muita atenção à longevidade, na pesquisa e na vida pessoal. Faz jejum intermitente e se exercita treinando jiu-jítsu. Ele acaba de publicar um artigo provando a ligação entre LSD e extensão de vida, mas em… vermes.
Não quaisquer vermes, desses que incham barriga de crianças, mas o animal-modelo Caenorhabditis elegans, invertebrado de 1 mm com um milhar de células. Ele vive livre no solo, se alimenta de bactérias e tem expectativa de vida da ordem de 20 dias. C. elegans, para pesquisadores interessados num animal de fácil manejo em estudos sobre desenvolvimento.
O trabalho foi postado dia 17 no repositório aberto bioRxiv sob o título “Dietilamida de Ácido Lisérgico Estende Tempo de Vida em Caenorhabditis elegans“, com participação destacada de Beatriz Carrilho, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e de Ivan Domith, do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (Idor).
No ponto de partida esteve o conhecimento de que restrição calórica —dieta com 30% a 60% menos calorias— e prática regular de exercícios podem prolongar a vida. Também se sabe que vias metabólicas envolvidas nesse processo se relacionam com receptores do neurotransmissor serotonina, peça importante do sistema regulador do humor que também é afetado por psicodélicos como LSD.
A hipótese de pesquisa foi que tratar C. elegans com o ácido lhe prolongaria a vida. Criados em placas de Petri contendo quantidade constante de LSD, os animais viveram em média 25% mais tempo que no grupo de controle. Testou-se ainda exposição por períodos limitados (24, 48, 72, 96 e 120 horas), que também ampliaram a longevidade, mas só em 11% a 12%.
O passo seguinte foi estimar se o prolongamento da vida diminuíra igualmente o ritmo de envelhecimento. Para isso a equipe monitorou a quantidade de lipofuscina, um pigmento que se acumula nas células e serve como indicador de degeneração progressiva. O estudo mostrou que a acumulação se desacelerou nos bichos tratados com LSD.
“Nossos achados demonstram que LSD estende a duração de vida e atrasa o declínio fisiológico associado com a idade em Caenorhabditis elegans“, concluem os autores. “Tais efeitos prolongadores da longevidade (…) estão associados com uma gama de fenótipos que mimetizam de perto aqueles induzidos por restrição calórica.”
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