Página Inicial Saúde Vício em celular é mais perigoso do que tempo de tela – 25/06/2025 – Equilíbrio

Vício em celular é mais perigoso do que tempo de tela – 25/06/2025 – Equilíbrio

Publicado pela Redação

Enquanto os americanos se mobilizam para controlar as crescentes taxas de comportamento suicida entre os jovens, muitos governantes têm se concentrado em uma métrica alarmante: o número de horas diárias que as crianças americanas passam grudadas nas telas.

Mas um estudo publicado no último dia 18 na revista médica Jama, que acompanhou mais de 4.000 crianças nos Estados Unidos, chegou a uma conclusão surpreendente: ter um maior tempo de tela aos 10 anos não estava associado a taxas mais altas de comportamento suicida quatro anos depois.

Em vez disso, os autores descobriram que as crianças com maior risco de comportamentos suicidas eram aquelas que relataram aos pesquisadores que seu uso de tecnologia havia se tornado “viciante” —ou seja, que tinham dificuldade em abandoná-la ou sentiam necessidade de usá-la cada vez mais. Algumas crianças exibiam comportamento viciante mesmo quando seu tempo de tela era relativamente baixo.

Os pesquisadores descobriram que o comportamento viciante é muito comum entre crianças —especialmente quanto o uso de telefones celulares, com quase metade delas apresentando alto índice de dependência. Aos 14 anos, crianças com comportamento viciante alto ou crescente tinham de duas a três vezes mais probabilidade do que outras crianças de ter pensamentos suicidas ou de se automutilar, constatou o estudo.

“Este é o primeiro estudo a identificar que o uso viciante é importante e é realmente a causa raiz, e não o tempo”, diz Yunyu Xiao, professora assistente de psiquiatria e ciências da população na Faculdade de Medicina Weill Cornell e autora principal do estudo.

O comportamento viciante pode ser mais difícil de controlar durante a infância, antes que o córtex pré-frontal —que atua como um freio à impulsividade— esteja totalmente desenvolvido.

Xiao afirma que as intervenções devem se concentrar no comportamento viciante da criança, que geralmente é tratado com terapia cognitivo-comportamental, em vez de simplesmente limitar o acesso às telas.

“Se houver sinais de alerta precoces, é importante que os pais busquem ajuda profissional para crianças com tais vícios”, diz. “Não sabemos se apenas tirar o telefone delas ajudará. Às vezes isso pode criar conflitos na família, o que é ainda pior.”

O estudo analisou mudanças no uso de telas de 4.285 crianças a partir dos 10 anos, avaliando-as regularmente quanto ao uso compulsivo, à dificuldade de desengajamento e à angústia quando não tinham acesso.

Aos 14 anos, quando os sujeitos foram avaliados quanto a comportamento suicida e estado de saúde mental, 5,1% dos participantes haviam demonstrado tentativas de suicídio ou preparação para uma tentativa, e 17,9% haviam experimentado ideação suicida.

O estudo não estabeleceu que o uso viciante causou comportamentos suicidas aos 14 anos, mas conseguiu mostrar que uma trajetória prolongada de uso viciante precedeu os problemas de saúde mental, diz Xiao.

RESPONSABILIDADE DAS EMPRESAS

O foco no comportamento viciante tem importantes implicações políticas, transferindo mais responsabilidade para as empresas de tecnologia que projetam dispositivos e plataformas de mídia social, afirma Mitch Prinstein, diretor científico da Associação Americana de Psicologia.

Os legisladores podem abordar o vício exigindo que as empresas de tecnologia introduzam um “design apropriado para a idade” que limite recursos que os adolescentes acham difícil de resistir, diz ele. O Reino Unido introduziu um código desse tipo em 2020. “Simplesmente não fazemos isso aqui [nos EUA]”, acrescenta. “Incorporamos o uso viciante no design do produto.”

Os debates sobre o tempo de tela, por outro lado, tendem a colocar o ônus nos pais para limitar o uso das plataformas por seus filhos, uma tarefa que pode ser especialmente difícil para famílias monoparentais ou de baixa renda, diz ele.

“Estamos falando de algo que simplesmente não é viável para algumas pessoas que dependem desse dispositivo para acalmar seus filhos por alguns minutos, dando-lhes um momento para dobrar a roupa e preparar o jantar ou ir para um segundo emprego.”

O novo estudo encontrou níveis mais altos de uso viciante de mídias sociais, videogames e telefones celulares entre adolescentes negros e hispânicos e entre jovens de famílias com renda anual inferior a US$ 75 mil, pais solteiros e pais sem formação universitária.

Para quase metade das crianças no estudo, o uso viciante do telefone era consistentemente alto desde os 11 anos; outros 25% começaram com baixo uso viciante, que aumentou acentuadamente.

Para esse último grupo, “o risco de comportamento suicida aumentou claramente, dobrando os níveis”, diz Xiao. “Então, se não os medirmos repetidamente, poderíamos perder esse grupo enquanto eles estão crescendo.”

É improvável que o novo estudo acalme as preocupações sobre o tempo de tela, que se tornou uma grande questão de saúde pública. Adolescentes americanos passam uma média de 4,8 horas por dia em plataformas de mídia social como YouTube, TikTok e Instagram, mostrou a Gallup em 2023, o ano mais recente para o qual há dados disponíveis.

Em seu livro de 2024, “A Geração Ansiosa“, Jonathan Haidt, psicólogo social, identificou o surgimento dos smartphones como um ponto de inflexão fundamental, após o qual a saúde mental dos jovens nos Estados Unidos começou a se deteriorar. Desde então, legisladores em muitos estados elaboraram leis limitando o uso de mídias sociais ou tempo de tela, especialmente durante o horário escolar.

Muitos cientistas que estudam a relação entre mídias sociais e saúde mental dizem que é prematuro emitir advertências generalizadas, argumentando que a pesquisa até agora contou uma história mista de danos e benefícios, e o que parece importar mais é o que os jovens estão fazendo online.

“Sabemos há mais de uma década que o tempo de tela é uma medida falha, mas continuamos a contabilizar o tempo gasto em telas em vez de perguntar como os jovens estão gastando seu tempo online e por que querem estar lá”, afirma Candice L. Odgers, professora de ciência psicológica em informática na Universidade da Califórnia, Irvine.


ONDE BUSCAR AJUDA

CVV (Centro de Valorização da Vida)

Voluntários atendem ligações gratuitas 24 horas por dia no número 188

www.cvv.org.br.

Mapa Saúde Mental

Site mapeia diversos tipos de atendimento

www.mapasaudemental.com.br

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